“A abolição do homem” é um livro pequeno e impressionante. C.S.Lewis trata, aqui, de questões que há muito tem sido esquecidas pelos educadores e que merecem nossa atenção e estudo.
Alguns trechos extraídos da edição de 2012, Editora Martins Fontes:
“Creio que Gaius e Titius* sinceramente entenderam errado a urgente necessidade pedagógica do nosso tempo. Eles veem o mundo ao redor dominado pela propaganda emotiva – aprenderam com a tradição que a juventude é sentimental – e concluem que a melhor coisa a fazer é fortalecer a mente dos jovens contra a emotividade. A minha própria experiência como professor me ensina justamente o contrário. Pois, para cada aluno que precisa ser resguardado de um leve excesso de sensibilidade, existem três que precisam ser despertados do sono da fria vulgaridade. O dever do educador moderno não é o de derrubar florestas, mas o de irrigar desertos. A defesa adequada contra os sentimentos falsos é inculcar os sentimentos corretos. Ao sufocar a sensibilidade dos nossos alunos, apenas conseguiremos transformá-los em presas mais fáceis para o ataque do propagandista. Pois a natureza agredida há de se vingar, e um coração duro não é uma proteção infalível contra um miolo mole.” p. 12

“A operação do Livro verde e seus semelhantes é produzir o que podemos chamar de Homens sem Peito. É abominável que não raro deem a isso o nome de Intelectuais. Isso lhes dá a chance de dizer que que os ataca, está atacando a Inteligência. Não é verdade. Eles não se distinguem dos demais homens por uma habilidade especial para encontrar a verdade nem por um ardor insuperável ao persegui-la. Seria de fato estranho se assim fossem: uma perseverante devoção à verdade, um sentido agudo de honra intelectual não podem ser mantidos por muito tempo sem a ajuda dos sentimentos que Gaius e Titius desmascarariam com a facilidade habitual. Não é o excesso de pensamento que os caracteriza, mas uma carência de emoções férteis e generosas. Suas cabeças não são maiores que as comuns: é a atrofia do peito logo abaixo que faz com que pareçam assim.
E todo o tempo – tal é o caráter tragicômico da nossa situação – continuamos a clamar por essas mesmas qualidades que tornamos impossíveis. Mal podemos abrir um periódico sem topar com a afirmação de que nossa civilização precisa de mais ‘ímpeto’, ou dinamismo, ou auto-sacrifício, ou ‘criatividade’. Numa espécie de mórbida ingenuidade, extirpamos o órgão e exigimos sua função. Produzimos homens sem peito e esperamos deles virtude e iniciativa. Caçoamos da honra e nos chocamos ao encontrar traidores entre nós. Castramos e ordenamos que os castrados sejam férteis.”p. 23-24
*Nomes fictícios dados por Lewis aos autores do livro didático, a que ele denomina ‘Livro Verde’, e cujo teor ele analisa no decorrer dessa obra.