Seria o amor aos livros de fato uma coisa boa?
Venho pensando nisso há algum tempo. Porque me parece que gostar de livros se tornou um tipo de moda – é legal ser alguém que gosta de livros.
Um dos problemas que eu vejo nisso, especialmente no caso das crianças, é o fato de que é possível alguém gostar muito de livros e simplesmente não ler – o que, convenhamos, não adianta lhufas.
O outro problema é que o que tem de livro ruim nesse mundo não está no gibi, viu? Estava agora pouco lendo com um aluno que está em fase de alfabetização e fiquei incomodada com a baixa qualidade da escrita. É impressionante quanto a literatura infantil atual é voltada para proporcionar experiências às crianças – livro que toca música, abre mil janelas, faz e acontece. Minha pergunta é: não deveríamos estar muito mais preocupados com o conteúdo e qualidade dos textos que oferecemos às crianças e que serão a sua base de formação literária? Não deveríamos avaliar mais severamente a estrutura utilizada na construção das frases, a riqueza do vocabulário e sonoridade que formarão seu repertório e consciência fonológica?
“Ah, mas a criança precisa ser atraída aos livros”. Concordo. Mas, sinceramente, o que tenho visto é que a maior parte das crianças permanecem, com o passar dos anos, com os livros “bonitinhos e fáceis”, sem evoluir para leituras mais consistentes e de melhor qualidade. E creio piamente nisso: as belas histórias têm o poder de atrair a atenção e a imaginação das crianças com força muito maior do que qualquer desenho supercolorido ou personagens estranhos.
Creio, então, que o amor aos livros é importante sim. Desde que as crianças sejam ensinadas a amar os livros certos. O livro fácil atrai, mas apenas de forma superficial. É a beleza que de fato encanta; porque embora sua nobreza exija do leitor certo esforço e perseverança, permite que a criança seja levada para os lugares onde a esperança mora – aqueles que, uma vez visitados, produzem no coração esse anseio pelo que é verdadeiro, belo e bom.