São José dos Campos, 10 de junho de 2021.
Entre um momento de choro e outro eu paro para escrever a vocês.
Não era esse o assunto. O roteiro já estava pronto e eu pretendia começar a programação certinho das cartas que pretendo escrever a cada semana. Mas quando outra vez me vi chorando pensei que não faria sentido seguir o planejado e decidi enviar outra mensagem.
Não sei como tem sido para vocês as últimas semanas, mas aqui os dias têm sido difíceis. Perdemos duas pessoas em nossa igreja nessa última semana. Um pai de família que deixa a esposa e três filhas e uma mãe que deixa 3 filhinhos. Mesmo não sendo próxima deles, meu coração dói tanto… Que tempo temos vivido! Quanta dor essa pandemia tem causado!
Mas, sabe… Essa semana tem me feito pensar muito no que temos feito do tempo que nos é dado.
Quem me acompanha há um tempo já deve saber que eu amo as obras de Tolkien e que uma dos meus trechos favoritos da trilogia do Senhor dos Anéis é daquele momento em que Frodo diz que gostaria de todo aquele mal não tivesse acontecido em sua época. Ao que Gandalf responde: “Eu também não. Como todos os que vivem nestes tempos. Mas a decisão não é nossa. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.”
E eu sempre, sempre penso nisso: como gostaríamos que essas coisas não tivessem acontecido em nossa época! Assim como aqueles que viveram os horrores dos bombardeios em tempos de guerra, ou as terríveis torturas em tempos de perseguição aos cristãos, ou ainda as desolações provocadas por terremotos e furacões.
Mas é tão sábia a frase que Tolkien colocou nas palavras de Gandalf! Não temos absolutamente nenhum poder para decidir em que tempo viveremos, ou que lutas enfrentaremos. Tudo o que podemos decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
Então eu me vejo secando as lágrimas. Não quero olhar só para a dor, embora seja necessário sofrer com os que sofrem. Mas quero olhar para o dia que Deus me deu hoje. Hoje eu tenho vida, hoje não estou com dores e posso trabalhar. Hoje é o tempo que eu tenho e quero me sentir grata por cada dia. Levantar meus olhos e dispor-me a trabalhar e servir.
Então me vejo sorrindo. Aqui do meu lado está um livro que recebi de um querido aluno de quem fui professora há 7 anos. O Davi escreveu um livro com devocionais e meditações inspiradas em trechos de filmes, e uma das frases que escolheu foi exatamente essa de Tolkien que citei acima.
No início do livro ele diz que eu o incentivei nesse mundo da leitura (e eu me lembro como fiquei feliz quando ele decidiu ler O Hobbit). Então agradeço a Deus. Porque o que fazemos a cada dia pode parecer repetitivo, mas aos poucos estamos colocando essas sementinhas no coração das crianças e nem podemos imaginar quanto, um dia, elas florescerão.
Acabei de receber mais um texto de um dos alunos da Academia Kids. E penso se um dia uma dessas crianças me enviarão um livro que escreveram também. Penso “o que posso fazer em um dia de vida?”. Em um dia posso escrever uma mensagem para encorajar alguém. Posso preparar um almoço e nutrir minha família por mais um dia. Posso trabalhar por algumas horas criando um material que ajude as famílias. Em um dia não consigo fazer muito, mas consigo fazer pequenas coisas que talvez durem muito tempo, talvez sejam o bastante só para aquele dia. Mas que com certeza fazem algo florescer.
E assim sigo, com a esperança renovada e a lembrança de que o Senhor ainda está aqui. Sua Graça ainda nos cerca em meio a todas as dores e lutas que nosso mundo tem enfrentado. E Ele ainda nos diz: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. (João 16.33). Sigamos, amigos, para mais um dia! Decidamos viver com ânimo o tempo que nos é dado.
Com carinho,
Katarine