AFTERSCHOOLING: educação além da escola [Parte 2]

Continuando a nossa série, hoje trataremos a pergunta que surge após entender o que é o afterschooling: afinal, como começar o afterschooling?

“Decidi assumir a frente do processo educativo de meu filho. E agora… Por onde começar?”

Certamente é nobre a decisão de envolver-se de forma ativa e não deixar nas mãos de outras pessoas ou organizações a educação de seus filhos. Mas nós fazemos parte de uma cultura que vem, há anos, afastando os pais desse processo. É por esta razão que tantos pais se sentem pouco preparados para essa tarefa.

Em 2016 eu conheci um senhor uruguaio chamado José Gonzalez, que trabalha com formação de líderes cristãos nos Estados Unidos. E uma brevíssima história que ele compartilhou ficou marcada na minha memória. Estávamos em um congresso de educadores da AECEP e fui assistir ao workshop que ele apresentou sobre o papel imprescindível da família na educação. Ele contou:

“Certa vez, fui convidado a participar de um evento para pais em um local de situação econômica bastante precária. Ali, quando falava sobre o papel dos pais no desempenho acadêmico das crianças, um pai levantou a mão e disse: “Isso não é para mim. Eu não sei nem ler; como vou ajudar meu filho?”. E vários outros pais e mães concordaram. Naquela noite, fui para o hotel e fiquei pensando sobre isso. Então peguei um papel e uma caneta e comecei a escrever: Coisas que os pais podem fazer pela formação de seus filhos mesmo que não saibam ler. No dia seguinte havia uma nova palestra e eu me levantei e disse àqueles pais: “Hoje eu tenho aqui uma lista; quero falar sobre 100 coisas que um pai ou mãe que não aprenderam a ler e escrever podem fazer para oferecer uma boa formação aos seus filhos”.

CEM coisas! Mesmo alguém que não sequer aprendeu a ler!

Eu fiquei encantada com aquela história! Naquela época eu acreditava e defendia que os pais podem, sim, assumir o papel principal na educação de seus filhos – tanto que tinha montado um minicurso para as mães dos meus alunos que queriam aprender como ensinar as crianças a estudar. Ouvir aquele senhor que já vivera tantas coisas como diretor de escola me animou ainda mais!

Mas, afinal, o que os pais podem fazer de tão importante? Qualquer pessoa pode assumir a educação de seu filho?

Para entender melhor esse aspecto, é preciso compreender antes a diferença entre os três tipos de educação: EDUCAÇÃO FORMAL, EDUCAÇÃO INFORMAL e EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL

Esses termos surgiram na década de 1960 no contexto anglo-saxônico, quando o sistema escolar colapsou de tal forma que as organizações não governamentais começaram a buscar uma solução para melhorar ou socorrer, de alguma forma, a educação. Embora existam algumas visões diferentes quanto ao sentido mais específico de cada tipo de educação, de forma geral entende-se que estão organizadas assim:

INFORMAL: é a que acontece sempre que alguém aprende algo de forma espontânea. Quando você ensina a criança a contar o troco da padaria, quando, em uma conversa, ensina sobre honestidade, ou quando alguém, lendo um livro, descobre o que é uma bétula.

NÃO FORMAL: diz respeito a toda iniciativa de ensino que possui uma organização com objetivos de aprendizagem, sequência e método, porém não faz parte do programa de educação formal. É a que acontece em classes de escola dominical em uma igreja, ou em cursos livres, por exemplo.

FORMAL: é aquela que possui uma estrutura definida quanto aos conhecimentos e habilidades básicas que uma pessoa precisa. É organizada em ciclos ou séries e inclui avaliações para verificar o aprendizado. Basicamente é a educação escolar normal – o processo que vai do Ensino Fundamental até a universidade.

Então, para começar a pensar seu projeto de Afterschooling, eu organizei alguns tópicos de formação, conciliando com esses níveis, para te ajudar a considerar: em qual desses níveis eu consigo trabalhar hoje?

Se você está começando a se envolver na vida educacional de seus filhos, talvez seu primeiro passo seja trabalhar na área mais básica, que é a educação informal. Porque mesmo nessa área, você pode trabalhar de modo intencional em aspectos bem fundamentais da educação das crianças, considerando o que eles precisam em cada fase em questões de saúde e desenvolvimento, identidade e emoções, fé e devoção. Por exemplo, uma criança na fase de 0 a 3 anos está aprendendo a andar, falar e conhecer o mundo que a cerca. Uma criança na fase de 4 a 5 anos já precisa aprender alguns hábitos de higiene específicos. Uma criança na fase de 6 a 10 já precisa ser ensinada a lidar com emoções, e assim por diante.

Se você já se sente mais confiante para ir além, por já estar trabalhando as áreas básicas da educação informal, pode começar a trabalhar os aspectos da educação não-formal. Aqui, seu foco já estará no desenvolvimento de habilidades necessárias, e que nem sempre são trabalhadas na escola: desenvolvimento da linguagem, habilidades cognitivas, conhecimento geral, educação do caráter e virtudes e o físico-motor. Por exemplo, uma criança na fase dos 4 a 5 está na fase de trabalho de consciência fonêmica ou preparo para alfabetização; uma criança/adolescente de 11 a 14 anos precisa consolidar sua fluência leitora, a habilidade de planejamento e raciocínio, enquanto na fase de 15 a 17 eles já precisam refinar a habilidade de argumentação lógica e resolução de problemas.

Quando os pais já dominam bem esses dois níveis, é possível começar a trabalhar no terceiro nível, que envolve as disciplinas acadêmicas da educação formal mesmo. Aqui, não significa necessariamente assumir a responsabilidade pelo ensino (ou contratação de professores específicos), mas um conhecimento dos conteúdos e habilidades que a criança precisa em cada série escolar, para conseguir acompanhar melhor o trabalho que a escola está fazendo. A educação formal envolverá o ensino de Língua Portuguesa (Fonética, Gramática, Sintaxe), Matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria, etc.), Ciências Naturais (Biologia, Química, etc.), Geografia (Geografia Física e Sociedade), História, Artes, Língua Estrangeira e Educação Física. Claro, quando os pais já trabalham os aspectos dos níveis anteriores e têm um bom conhecimento das disciplinas acadêmicas, alguns podem considerar começar um planejamento pedagógico para assumir oficialmente a educação formal – na modalidade a que chamamos de homeschooling, ou educação domiciliar.

E no seu caso, em qual desses níveis você percebe que consegue trabalhar hoje com seus filhos? Prefere começar trabalhando de modo intencional os aspectos da Educação Informal, já sente que pode trabalhar as habilidades da Educação Não-Formal ou percebe que já consegue assumir também o acompanhamento das disciplinas acadêmicas da Educação Formal?

Compartilhe aqui nos comentários qual desses níveis você gostaria de começar.

***

Olá! Eu sou a Katarine Jordão, professora e idealizadora do Educar com Sapiência. Sou pedagoga com especialização em orientação educacional e educação cristã, mas meus estudos pessoais me levaram a conhecer a educação que pedagogia moderna não ensina: uma educação que tem como base a formação do caráter e das virtudes e o domínio de habilidades essenciais para a vida, como a leitura proficiente, a lógica, a atenção, o estudo e as emoções ordenadas.

Em 2016 decidi sair da sala de aula e me dedicar em tempo integral ao trabalho de orientar aqueles que querem trabalhar essa educação. Hoje, com meu esposo Paulo e nossa equipe, oferecemos formação, materiais e consultoria para pais e professores. E toda semana eu escrevo uma carta e envio por e-mail compartilhando pensamentos sobre esse desafio de educar a mente e o caráter das crianças – e o nosso. Se quiser receber também é só inscrever-se aqui.

BIBLIOGRAFIA consultada para este artigo:
ZAGAR, Igor Z., From Formal to Non-Formal: education, learning and knowledge – Cambridge Scholars Publishing, Newcastle, 2014.

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