
Quem não assistiu ao vivo, acabou vendo as cenas depois, porque a internet está “chovendo” de comentários sobre o comportamento do pequeno Príncipe Louis de Cambridge, filho do Príncipe William e da duquesa de Cambrigde, Kate Middleton.
Há quem sinta certo consolo em ver que “até os filhos da princesa fazem isso, que dirá os meus”, e há quem diga que é inadmissível um comportamento assim por parte de uma criança.
Quero sair um pouco desse debate e convidar vocês a refletir sobre uma questão envolvendo a educação do caráter.
Enquanto lia sobre tudo isso fiquei pensando… O ser humano sempre teve a tendência, creio, de analisar as coisas por seu ponto de vista e dar veredictos de “culpado” ou “inocente”. Mas percebo que o advento das redes sociais intensificou muito tudo isso, porque tornou tudo muito imediato. Você bate o olho em uma foto ou vídeo, e mesmo sem se aprofundar muito já é instigado a “reagir” – curtindo ou não, concordando ou discordando, comentando o que acha – muitas vezes até sem ler o próprio texto que acompanha a foto.
E nesse ardor de ter respostas prontas sobre tudo, vamos deixando de lado o tempo e a paciência que a sabedoria exige.
Sobre o caso do pequeno príncipe, digo a vocês: eu trabalho com crianças há uns vinte e cinco anos. Muitas coisas eu percebo só de bater o olho, simplesmente porque já lidei com centenas de crianças diferentes, algumas ao longo de vários anos, e meu olhar foi sendo treinado para certas atitudes comuns.
Ainda assim, enquanto assistia a alguns trechos do Jubileu da Rainha, esse evento recente em que o comportamento do príncipe Louis ficou evidente, não me vi no papel de dizer que a educação que ele recebe é isso ou aquilo – simplesmente porque não acho que seja possível avaliar isso com base em alguns momentos de aparição pública de uma criança, exceto em alguns casos. Existem muitas informações que não temos sobre o que realmente eles estão lidando.
Sim, eu observei os momentos em que a mãe falava com ele ou corrigia com as mãos algum comportamento dele, como colocar os dedos na boca ou mesmo esse de pôr a mão sobre a boca dela. Também observo quando uma criança age com desrespeito e a mãe simplesmente ignora ou acha graça. Mas eis o que gostaria de comentar:
Educar o caráter leva tempo
Anos atrás, trabalhei por algumas semanas como professora de uma turma de 4 a 5 anos. Uma das crianças tinha um comportamento bastante desafiador e difícil. Cinco anos depois eu fui professora dessa mesma turma, dessa vez por um ano inteiro. E me surpreendi com a mudança de atitude daquela criança.
Acabei me aproximando da mãe dela e um dia conversei sobre isso. E ela me disse:
“Kat, nunca foi fácil. Mas nós decidimos nunca aceitar que ela simplesmente fosse assim. E por isso oramos, buscamos a Deus, e tratamos o caráter dela todos os dias, por mais difícil que seja”.
Eu fiquei tão feliz ouvindo isso! Porque algumas crianças são naturalmente dóceis, mas outras possuem uma natureza mais difícil. A questão é que isso não quer dizer que será sempre assim.
E quer dizer que leva tempo educar o caráter de uma criança. (Por isso não crio um “curso rápido eduque-o-caráter-de-seu-filho-em-30-dias”, porque isso seria mentira).
Vejam novamente o caso da família real. Ao lado do príncipe Louis estavam seus dois irmãos mais velhos, príncipe George e princesa Charlotte. Ambos com comportamento admirável. Mas o que muita gente não se lembra é que eles também já tiveram seus momentos de birra e comportamento complicado em eventos públicos quando tinham seus 3 ou 4 anos. E na época também surgiram comentários sobre isso.
Do mesmo modo como já vi crianças crescendo e deixando para trás certas atitudes conforme seus pais e professores a ensinavam, também já vi crianças doces se tornarem adolescentes difíceis e problemáticos porque não foram ensinados no caminho – porque um temperamento mais tranquilo não significa que o coração não tenha de ser moldado.
Em tudo isso, minha reflexão foi que, de minha parte, prefiro me ocupar menos em determinar se o modo de educar de alguém é isso ou aquilo, e mais em ajudar aqueles que nos procuram em busca de uma educação que considera os princípios bíblicos e estratégias práticas para trabalhar o caráter da criança.
E se você se vê na situação de lidar com problemas de comportamento ou de caráter de seus filhos, meu encorajamento é para que você não se deixe abater pelos dias difíceis. Um dia, talvez em breve, todo o seu trabalho trará seus frutos.
Educar o caráter – seja o nosso, seja o da criança – leva tempo.
Não desista.
Katarine Jordão
P.S.: Quer trabalhar a educação do caráter através das histórias? Conheça aqui o Programa Valores e Virtudes.