Por que saímos do Instagram?

Há alguns minutos deletei a penúltima postagem que ainda restava no perfil do Educar com Sapiência no Instagram. Foram HORAS deletando, uma a uma, cada uma das centenas de fotos ou vídeos que tínhamos lá.

Antes de continuar, já quero deixar claro que essa decisão diz respeito ao NOSSO caso aqui no Educar com Sapiência (e o porquê eu explico agora:).

Não vou dizer que foi simples tomar essa decisão. Em alguns momentos chegou a ser dolorido apagar as fotos com os comentários de cada um. Minha primeira postagem nesse perfil profissional foi no dia 11 de fevereiro de 2017. De lá para cá já se vão cinco anos – o que não é pouca história. Os posts dos dois primeiros anos foram os mais difíceis de apagar, porque tudo ali contava uma história sobre como tudo começou. E eu gosto muito de ter registros que nos permitem lembrar como tudo foi sendo construído aos poucos. (Tanto que eu só apaguei depois de ter feito o download de TUDO o que tinha lá. rsrs)

Mas não vem de hoje nossa decisão de encerrar nossa atividade profissional nessa rede social. Na verdade, no meu primeiro ano ali eu já postei avisando que daria uma pausa no Instagram por algumas semanas, como já fazia em meus perfis pessoais há algum tempo. (Mais ou menos em 2015 eu comecei a entender melhor os problemas das redes sociais em nossos comportamentos e sentimentos, e passei a dar uma pausa esporádica para desintoxicar um pouco).

Mas foi só no dia 7 de outubro de 2020, depois de uma longa conversa que tivemos sobre como tornar nosso trabalho mais organizado no Educar com Sapiência, que o Paulo e eu consideramos que talvez fosse hora de sair mesmo do Instagram.

Por três razões principais:

1 – Uma questão de produtividade e planejamento

Se no início as redes sociais pareciam o ambiente ideal para compartilhar ideias, reflexões e até conteúdo instrutivo para quem quisesse ler ou assistir, com o tempo tudo se tornou mais confuso porque fomos aderindo a várias plataformas diferentes, cada uma com seu estilo e suas demandas. Em certo momento eu me vi esgotada tentando – e falhando miseravelmente – em responder todo mundo em todos os canais onde estávamos.

Sempre falo, em nossos vídeos ou cursos, sobre como é fundamental você ter objetivos claros quanto ao que está fazendo. Seja na educação dos filhos, numa aula, em um projeto ou na sua empresa, se você não sabe onde quer chegar, inevitavelmente cairá no problema de sair fazendo coisas só porque outros estão fazendo (ou dizendo que você deveria fazer). No caso do nosso trabalho isso também acontece assim. Então regularmente precisamos avaliar se o que estamos fazendo está contribuindo para nos fazer alcançar nossos objetivos.

E fazendo isso em 2019, eu entendi que era preciso eliminar alguns desses canais todos onde estávamos para simplificar e conseguir fazer as coisas com mais foco e produtividade. O primeiro que encerramos foi a página no Facebook. Depois decidimos atender prioritariamente pelo e-mail e evitar o Whatsapp, porque ali é muito fácil perder mensagens no meio de tantas conversas. E em 2020, ao fazer novamente esse planejamento e avaliação, decidimos que era tempo de parar nossas atividades no Instagram, que já havia se tornado um lugar confuso e “barulhento” e, especialmente, porque ele agora era uma plataforma onde os famigerados algoritmos determinavam tudo.

Antes, no Instagram, era possível fazer uma postagem que seria enviada aos seus seguidores, que podiam decidir entrar na plataforma uma vez por semana ou quando quisessem; agora o Instagram determina como e com que frequência você deve produzir conteúdo porque ele só entrega o que o algoritmo julgue interessante para a plataforma. Ou seja: se você quer que as pessoas recebam o que você escreve você precisa se adequar ao que a plataforma quer que você faça.

A consequência lógica é que isso toma tempo e não permite que você trabalhe de forma muito produtiva, especialmente porque quando estão usando o Instagram, raramente as pessoas estão num modo contemplativo ou numa postura de estudos. Ali é o lugar onde as pessoas pegam fragmentos de tudo, mas dificilmente se aprofundam em alguma coisa, já que logo abaixo estará mais um vídeo engraçado, mais um post polêmico, ou mais uma novidade sobre a vida de alguém. Ou seja, para os nossos objetivos, que incluem ajudar de forma mais profunda as pessoas e falar sobre educação – que é algo que, por sua natureza, requer uma postura mais ativa e focada, isso tudo funciona pouco. Mas, acima de tudo, o problema é que esse novo formato entra em conflito com certos princípios que defendemos. Que é onde entra a nossa segunda razão:

2 – Uma questão de ética e princípios.

Não é preciso discorrer muito sobre os problemas do excesso de uso das redes sociais, questões já muito discutidas há muito tempo. Desde aspectos mais óbvios como o desperdício de tempo em conteúdos irrelevantes e discussões inúteis, até aspectos mais profundos, como o fato de tudo ser criado para ler com precisão o que influencia o comportamento dos usuários, não somente para que se tornar uma distração, mas para literalmente viciar a pessoa em níveis absurdos, especialmente desde que deixou de ser simplesmente uma rede social para tornar-se uma ferramenta com alto potencial comercial.

E aqui não me refiro simplesmente aos anúncios, mas à alta quantia de dados e informações pessoais que se tornaram uma nova moeda nesses tempos digitais, tudo associado ao modo como os algoritmos direcionam/manipulam as informações conforme a vontade da empresa e suas ideologias e censuras.

Nem vou entrar muito nesse tópico aqui, mas todos nós já sabemos que o Instagram é bem autoritário com relação aos conteúdos que ele considera que “ferem as diretrizes da comunidade”, que ninguém sabe muito bem quais são.

Mas um dos problemas mais conflitantes, no nosso caso, é que o Instagram se tornou um gerador de problemas como ansiedade, depressão e outros problemas cognitivos e psicológicos. Não, não creio que o Instagram simplesmente potencializa esses problemas. Eu creio que ele revela, manipula e potencializa problemas do coração como inveja, descontentamento, insegurança e busca por reconhecimento e aprovação (eu sei porque vejo claramente isso em meu próprio coração), mas creio que ele realmente cria problemas contra os quais algumas pessoas – especialmente os adolescentes ou pessoas mais vulneráveis – não aprenderam ainda como lidar.

Agora, quando falo sobre essas questões, muitas pessoas me dizem: “Ah, mas a internet é uma ferramenta que pode ser usada para o bem ou para o mal. O importante é saber usar com sabedoria”.

Eu confesso que já defendi isso também há alguns anos, que o problema não está nas coisas, mas na forma como usamos. Hoje não acredito mais nessa neutralidade toda. Aliás, com tantos casos de processos e julgamentos envolvendo o Facebook, fica difícil você defender que é só uma plataforma, né?

Mas eu creio sim que é possível tomar decisões para usar tudo com sabedoria. Mas aí começa o nosso terceiro problema:

3 – Uma questão de escolhas

Quando uso o Instagram como conta pessoal, facilmente posso decidir tomar atitudes como usar somente por 10 minutos por dia (caso tenha força de vontade o bastante para isso), seguir poucas pessoas, evitando assim os excessos, ou simplesmente desinstalar o aplicativo por um tempo. Se tenho forças para isso e ainda não estou viciada, é só dosar o uso.

O problema é que, como mencionei acima, hoje o Instagram dita as regras de como você deve agir para que ele entregue seu conteúdo (mesmo para as pessoas que decidiram seguir você). Então, quando o Instagram (na verdade o Facebook, que é a empresa por trás do Instagram) tentou comprar o Snapchat, outra rede social, e eles recusaram vender, o empresário famoso por copiar ideias alheias foi lá e inaugurou uma nova ferramenta no Instagram: os Stories. Que nada mais são do que conteúdos que somem em 24 horas, como no Snapchat.

A questão é que o Instagram usou isso de modo muito perspicaz: trazendo muitos recursos e funcionalidades para os Stories e valorizando os perfis que usam essa ferramenta, ele conseguiu intensificar muito aquele que é um dos principais objetivos da plataforma: fazer com que as pessoas passem o maior tempo possível usando a rede social.

Como? É simples: por meio do fenômeno que hoje se conhece, no inglês, como F.O.M.O (Fear of Missing Out), que pode ser traduzido como “medo de ficar de fora”, um tipo de ansiedade que faz com que a pessoa sinta que perderá muitas coisas se ficar de fora de algo que considera importante. No caso das redes sociais, são aquelas perguntas que reverberam lá no fundo do pensamento: “E se surgir alguma novidade importante e eu não ficar sabendo?” ou “e se alguém postar um conteúdo relevante e eu acabar não lendo porque não vai ser postado em outros lugares?”.

Então a ferramenta dos Stories conseguiu intensificar esse problema, porque valorizando quem posta conteúdo no formato que desaparece em 24 horas, ela cria umanecessidadede estar ali constantemente verificando para ter certeza de que não vai perder nada.

Tudo isso é uma questão de lógica para que funcione segundo a finalidade que eles pretendem. E o Instagram/Facebook é uma empresa com finalidades comerciais e algumas outras, então não tem o que se chatear com isso. Mas é possível não fazer entrar na dança.

“Ah, mas é possível salvar os stories nos destaques”. Sim, claro. Mas quanto por cento do conteúdo que as pessoas produzem nos stories realmente ficam salvos?

E o nosso problema, aqui no Educar com Sapiência, tornou-se uma questão de escolhas e postura coerente com o que acreditamos: não posso ficar postando coisas nos Stories para incentivar as pessoas a acharem que precisam estar ali todo dia para não perder nosso conteúdo. Não quero incentivar a ansiedade de querer consumir informações desenfreadamente. Queremos encorajar a busca por sabedoria, por reflexão, por profundidade. Queremos produzir conteúdos que estarão aqui no nosso blog ou no Youtube para que você assista ou leia quando tiver tempo.

“Mas é só você então não usar os Stories e publicar só no feed.”

Então, gente… Não é bem assim.

Como eu contei acima, o Instagram entrega conteúdos de quem “dança conforme a música”. É por isso que cada vez mais pessoas estão fazendo vídeos no formato Reels, que é a ferramenta que o Instagram quer promover no momento, ou postando dancinhas ou coisas engraçadas. Porque esse tipo de postagem traz mais visualizações e quanto mais coisas assim você posta, mais o algoritmo começa a entregar outras coisas que você produz.

Claro, se você mantiver a frequência. Porque para o Instagram é muito importante que você seja ativo e constante para manter o engajamento das pessoas e tornar tudo “mais interessante para o usuário”.

Ah, mas é só você não se importar com os números. Se uma pessoa for abençoada com sua publicação já não é uma coisa boa?

Então vamos lá.

Quando se trata de um perfil de empresa, a questão é que a partir do momento que estamos ali, temos a responsabilidade de interagir com as pessoas que acreditam que ali é o melhor lugar para tirar dúvidas ou buscar atendimento com relação a um produto que adquiriram, por exemplo. Sim, nós usamos o email, mas como sempre parece mais prático escrever pelo Instagram, muitas pessoas ainda entram em contato com a gente por ali. Ou quando compartilham no Stories algo sobre nossos cursos e produtos e nos marcam. Já perdi as contas de quantas postagens alguém fez e me marcou e eu não faço ideia do que foi nem posso agradecer porque não entro todos os dias no Instagram e a postagem simplesmente sumiu.

Então nós já tentamos deixar o Instagram como uma espécie de vitrine. Mas não temos como impedir as pessoas de nos enviarem mensagens por lá (e se sentirem mal atendidas porque não respondemos).

E a grande verdade é: com o tempo eu mesma acabei voltando a postar lá, movida pelo receio de estar perdendo a chance de alcançar pessoas que só veriam no Instagram.

Então chegamos à nossa última razão:

4 – Uma questão de fé

Muitas vezes eu já me vi preocupada com isso de “perder alcance”, porque o Educar com Sapiência não é somente o nosso ministério. Ele é nosso trabalho. Dependemos dele para pagar as contas, ir ao mercado, fazer exames médicos…

Mas o fato é que esse medo sempre nos confronta com a verdade que esquecemos de que tudo vem de Deus.

Quando alguém me diz: “Ah, não sai do Instagram. Foi lá que eu conheci vocês e creio que lá muitas outras pessoas podem ser alcançadas e ajudadas como eu fui”, eu sempre digo: “Gente, você não nos conheceu por causa do Instagram. Você nos conheceu porque Deus fez isso. Todos os dias nós oramos pedindo que o Senhor traga até nós as pessoas a quem nós podemos ajudar, pela graça Dele. Então se você chegou aqui numa pesquisa no Google, ou por um vídeo do Youtube, por indicação de um amigo ou pelo Instagram, no fim das contas foi Deus quem fez isso”.

Mas é fácil falar, né? Difícil é permanecer confiando. O problema é que cada vez que eu pensava em apagar mesmo tudo lá e direcionar nosso trabalho para outras formas, o medo sempre vinha: E se isso nos tornar completos desconhecidos e ninguém mais comprar nada nem souber o que fazemos?

Então nessa semana, no nosso devocional aqui em casa, lemos um salmo sobre a integridade, e um versículo dizia “aquele que jura com dano seu, e não muda”, ou “aquele que mantém sua palavra, mesmo quando prejudicado”.

E nós conversamos sobre isso. Sobre o que temos ensinado em cada material do Programa Valores e Virtudes, em cada aula do Clube Volta ao Mundo em Família, em cada carta que eu escrevo para quem está na nossa lista, em cada aula da Academia.

A escolha por viver segundo o que cremos é uma decisão difícil porque às vezes pode, sim, nos trazer dano. Talvez aconteça mesmo de ninguém mais saber do Educar com Sapiência.

Mas se assim for, não será porque saímos do Instagram, mas porque Deus permitiu.

E nós continuaremos buscando o que vem antes do Educar com Sapiência: viver para a glória Dele em tudo o que fazemos; seja o que for, onde for, como for.

Eu e o Paulo já dissemos isso muitas vezes em nossas orações: se o Senhor quiser que nós trabalhemos em outra coisa, desde que seja a tua vontade nós faremos. E muitas vezes eu já cantei, em voz alta ou em pensamento, aquele hino antigo:

“Não meu querer, mas o Teu, Senhor. Quero viver pra Teu louvor. E haja o que houver te ouvirei dizer: “Este é o caminho”, e paz terei.”

Bem, neste momento, encerrar as atividades do Educar com Sapiência no Instagram é o caminho por onde Ele tem nos conduzido, e eu sinto uma imensa paz por finalmente conseguir fazer isso. E sinto renovada em meu coração a convicção de que o Senhor vai cuidar de tudo, como sempre tem feito.

E continuamos firmes no nosso propósito de usar nossa experiência e formação para ajudar aqueles que estão decididos a fazer algo mais pela educação das crianças a partir da perspectiva cristã, mas sentem-se perdidos em meio ao excesso de informações e não sabem por onde começar.

Então não estaremos mais no Instagram, mas estamos animados para estar mais perto de verdade das pessoas. Então se quiser conversar é só marcar um horário aqui, preparar seu café ou chá e vir contar como podemos te ajudar.

Ah, e continuamos aqui no blog, lá no nosso canal do Telegram, no nosso canal do Youtube e nas nossas cartas por e-mail.

Um grande abraço para vocês e que Deus abençoe sempre a cada um de vocês!

Com carinho,

Katarine Jordão

Oi! Eu sou a Katarine Jordão. Gosto de dizer que sou professora por formação, vocação e paixão. Sou pedagoga com especialização em orientação educacional, tutoria e educação cristã. Comecei o blog em 2013, mas seis anos depois decidi sair da sala de aula e me dedicar em tempo integral ao trabalho de ajudar famílias que querem oferecer aos seus filhos a educação que a escola não pode oferecer, mesmo que tenham pouco tempo e pouca formação. Hoje, com meu esposo e nossa equipe, nós oferecemos cursos, materiais e consultoria para pais e professores. E toda semana eu escrevo uma carta e envio por e-mail compartilhando pensamentos sobre esse desafio de educar a mente e o caráter das crianças – e o nosso. Se quiser receber também é só inscrever-se aqui.

3 respostas para “Por que saímos do Instagram?”

  1. Assim que percebi que os Stories estavam roubando o meu tempo. Desinstalei o aplicativo do meu celular. Ainda abro o Instagram no navegador, quando alguém me manda um link, ou quando quero ver algum perfil específico. Os lançamentos(que te dão a sensação de estar perdendo a oportunidade da sua vida de adquirir algo) os stories que criam essa ansiedade estão acabando com a vida de muitas pessoas, que compram e não fazem o curso, só perdem o dinheiro. E que ficam muito tempo acompanhando como os outros vivem nos stories e não vivem a sua própria vida. Que Deus abençoe vocês pela decisão. O Instagram é como uma ponte sobre um rio. Você entra nela, observa que nos barcos que passam tem muita gente como você buscando a Verdade. Pega algumas coisas que te entregam ali, mas precisa atravessar e continuar o seu caminho. Ficar parado ali inerte, só assistindo, não vai te levar a lugar nenhum.

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    • É uma ótima analogia essa da ponte sobre o rio, Joice. Esses dias vi um vídeo sobre essa questão toda das redes sociais e os estudos sobre como estamos perdendo nossa capacidade cognitiva, e alguém disse uma frase assim: “A informação hoje está em todo lugar, mas nunca foi tão difícil encontrar a Verdade, visto que as pessoas não estão mais buscando, apenas aceitando o que veem passivamente passando diante de seus olhos”. Bem como você disse: ficar parado ali inerte não te leva a lugar nenhum. Que Deus nos ajude a sair dessa inércia e assumir uma postura de busca ativa pela Verdade, para discernirmos a vontade Dele para nossa vida.

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  2. Oi Katy
    Você é uma inspiração para nós. Deus abençoe essa novo momento. Vou abrir meus emails mais frequentemente agora, aguardando suas cartas hehe…abraço da família Caratti. Jaguarão/RS

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