O que é preciso para começar o homeschooling?

Hoje quero compartilhar com vocês algumas informações importantes para quem já faz ou pretende fazer a educação domiciliar. Com frequência recebo pedidos de orientação em dois casos: 1) Famílias que estão pensando em começar o Homeschooling e gostariam de saber se essa modalidade de educação realmente é para elas; 2) Famílias que já praticam o homeschooling, mas, por terem começado sem o devido planejamento, hoje se sentem perdidas e querem ajuda para organizar tudo.

Neste texto vou passar aqui algumas orientações gerais, de forma bem resumida e objetiva.

ATENÇÃO: Quando você está procurando informações sobre o homeschooling, geralmente encontra dois tipos de conteúdo: pessoas tentando mostrar como tudo é lindo, e pessoas tentando fazer parecer uma decisão horrível. Bem, eu sou pedagoga com especialização em Orientação Educacional e trabalho com crianças e adolescentes há mais de 25 anos sendo que, desses, 13 anos foram dedicados à educação formal. Desde 2017 ajudo famílias na formação intencional de seus filhos, com base na educação do caráter, formação das habilidades necessárias para a vida e identidade cristã. Por isso, nos últimos 8 anos acompanhei dezenas de famílias que optaram pela educação domiciliar. Vi surgirem os materiais, os especialistas e as comunidades voltadas para homeschooling desde os primórdios desse movimento no Brasil. Eu acredito, sim, que o homeschooling tem muitas vantagens – desde que seja feito de forma adequada. Já lidei com diversas situações diferente e já acompanhei inúmeros casos de famílias que começaram o homeschooling levadas por “propagandas” que faziam tudo parecer fácil e simples, para só depois se darem conta da dimensão real do trabalho e da responsabilidade. Por isso, minha intenção aqui não é “dourar a pílula”, mas sim apresentar o que realmente é necessário considerar ao tomar a decisão pela educação domiciliar. Acreditem: lidar com a escola atual é difícil, fazer homeschooling é difícil. São apenas dificuldades diferentes. Sim, Deus capacita e somos dependentes Dele em tudo o que fazemos. Mas minha convicção pessoal como educadora é a de que em tudo o que fazemos, devemos fazer com zelo e planejamento, como a própria Bíblia ensina, e buscando honrar ao Senhor em todo o tempo.

Este não é um artigo para pessoas que estão à procura de um caminho fácil, mas um caminho para oferecer uma educação realmente de qualidade para seus filhos.

Então vamos lá:

O que é preciso para fazer o Homeschooling?

Neste artigo detalharei 4 tópicos: TEMPO, RECURSOS, DOCUMENTAÇÃO E POSTURA DOS PAIS.

De forma geral, eu diria que você precisa de:

Essa parte depende de alguns fatores: 1) idade da criança/ano escolar (quanto maior a série, mais complexos os assuntos e, obviamente, mais tempo necessário); 2) formação e experiência do professor (como já trabalho com educação há mais de 25 anos, obviamente algumas coisas eu faço em menos tempo porque já tenho facilidade; quem está começando sempre precisa de mais tempo); 3) facilidade com estudos e habilidades (quem tem facilidade para estudar certamente precisará de menos tempo para preparar aulas; quem tem facilidade no uso de computador, precisará de menos tempo para preparar uma atividade, etc). 4) acesso a bons materiais e recursos (se você tem em mãos livros com o texto didático, ilustrações, mapas e exercícios, precisará de menos tempo para preparar a aula).

O tempo necessário eu divido em alguns momentos específicos:

  • A) Tempo para ensinar
    • Considere o padrão de 4 horas por dia como base. (Muito se diz sobre precisar de menos tempo em casa do que na escola, mas isso só é verdade em alguns casos específicos. Atualmente percebo que em cada dez famílias homeschoolers, nove precisam de pelo menos 4 horas de aula/ensino por dia).
    • Esse tempo é dividido em: 1) tempo em que você ensina e precisa dedicar atenção total à criança (não considere fazer isso enquanto você lava a louça ou digita algo do seu trabalho) e 2) tempo em que você acompanha a criança em alguma atividade e pode estar apenas por perto, supervisionando.
    • Eu prefiro não colocar mais de duas aulas de ensino por dia; então geralmente tenho 2 horas de ensino/interação didática (atenção total) e 2 horas de exercícios da criança (atenção parcial/supervisão).
    • TOTAL: 20 HORAS POR SEMANA
  • B) Tempo para preparar as aulas
    • Depende da sua facilidade em estudar e sua experiência como professor. Eu geralmente gasto uma hora de preparo para cada aula em que ensino um assunto, e quinze minutos para cada aula em que apenas acompanho a criança em algum exercício.
    • De forma geral, preciso de 2 horas e meia de preparo de aula por dia. No caso de aulas que já dei anteriormente, só preciso revisar, então esse tempo cai bastante, e no caso de assuntos em que já tenho um bom livro de exercícios o tempo cai bastante também.
    • Não se iluda: a menos que você tenha uma capacidade extraordinária de concentração, esse tempo precisa acontecer quando a casa está em silêncio. Não considere fazer um planejamento enquanto as crianças correm ao seu redor.
    • TOTAL: 5 a 10 HORAS POR SEMANA – professores experientes
    • 10 a 15 HORAS POR SEMANA – professores iniciantes
  • C) Tempo para planejamento
    • Aqui também depende da experiência do professor; obviamente quem já faz planejamentos há alguns anos precisará de menos tempo. Eu prefiro fazer o planejamento do ano todo de uma vez só porque gasto menos tempo do que fazendo todo mês ou toda semana.
    • Igualmente, essa atividade requer concentração. Não considere fazer isso nos momentos em que as crianças demandam sua atenção,.
    • Eu gasto cerca de 40 horas para fazer um planejamento completo para o ano, aula a aula. Para esse planejamento você precisa ter em mãos: 1) plano educacional com visão, filosofia de ensino e objetivos de aprendizado, 2) calendário do ano com férias, feriados, períodos de avaliação e dias letivos, 3) rotina semanal com horário de cada atividade/disciplina.
    • Quando este planejamento já está pronto, eu preciso de cerca de meia quinze minutos por dia para revisar e ajustar o planejamento.
    • TOTAL: 40 HORAS POR ANO + 2 HORAS POR SEMANA
    • (Caso você tenha filhos em séries diferentes, multiplique esse tempo pela quantidade de séries).
  • D) Tempo para correções de atividades
    • Esse tempo também depende de quanta prática você já tem e de quantas crianças, porque, obviamente, quanto mais crianças, mais atividades.
    • Em alguns casos, você pode fazer a correção das atividades enquanto as crianças estão concentradas em outros exercícios e atividades.
    • Considerando uma média, você pode separar cerca de 15 minutos por dia para correção das atividades de cada criança.
    • TOTAL: 2 a 3 HORAS POR SEMANA – PARA CADA CRIANÇA
  • E) Tempo para elaboração de avaliações
    • Muito se diz sobre não precisar fazer avaliações no homeschooling, porque os pais conseguem saber o que os filhos já sabem. O que eu digo: mesmo sendo professora há décadas e tendo experiência em verificar o que a criança sabe ou não, eu preciso de avaliações periódicas para ter registro da evolução do desenvolvimento em cada área, e ter certeza do que a criança já domina ou não. Esse tipo de avaliação te permite caminhar com mais segurança, ao invés de seguir aleatoriamente.
    • Eu prefiro fazer avaliações com frequência mais curta, para evitar acumular muito conteúdo. No meu caso é relativamente fácil preparar uma avaliação, de modo que considero cerca de meia hora para cada avaliação.
    • Em alguns casos, a avaliação não será um exercício que a criança faz, mas um checklist que você preenche com base em observação.
    • Pensando em avaliação mensal, multiplique esse tempo pela quantidade de áreas a avaliar. (Aqui, por padrão, avaliamos 8 áreas: Linguagem, Matemática e Habilidades Cognitivas, Ciências Naturais, História, Geografia, Artes, Educação Física e Caráter)
    • TOTAL: 4 HORAS POR MÊS – professores experientes ou 6 HORAS POR MÊS – professores iniciantes

  • TOTAL PARA PROFESSORES EXPERIENTES – cerca de 30 horas por semana (1 série), acrescentando 3 horas por semana para cada criança de série diferente
  • TOTAL PARA PROFESSORES INICIANTES – cerca de 37 horas por semana (1 série), acrescentando cerca de 4 horas por semana para cada criança de série diferente

Outra dúvida que sempre surge no caso da opção pelo homeschooling é: quanto vamos gastar? Será mais barato do que pagar uma escola particular?

Como sempre, os custos dependerão de outros fatores: 1) EXPERIÊNCIA: Quanto maior a sua experiência como professor, menos vai precisar investir em recursos, materiais e assessoria pedagógica. Já se você está chegando agora à área da Educação, vai precisar de ajuda enquanto desenvolve sua formação prática. 2) IDADE DA CRIANÇA: Quanto maior a série em que a criança está, mais você precisará de ajuda de professores especialistas e livros específicos. Por exemplo, uma criança de 4 anos demanda um investimento muito menor do que um aluno de 14 anos. 3) TEMPO: Quanto mais tempo você tem para investir em sua formação, menos você precisará investir em materiais. Por exemplo, se seu filho tem 4 anos e você tem bastante tempo para estudar, certamente quando ele estiver na idade de alfabetização você já terá um preparo maior e não precisará investir muito em materiais. Já se você tem pouco tempo para estudar, ou a criança já tem 6 anos, você precisará de ajuda e materiais para quem não tem formação na área.

Os cálculos que apresento aqui são resultado de consulta de preços na data atual (outubro/2024) e também de uma planilha de custos elaborada por uma família que já pratica o homeschooling há alguns anos.

Dito isso, alguns custos que você pode considerar:

A) Material Didático:

  • É possível encontrar coleções completas para cada ano/série, abrangendo as principais disciplinas que precisam ser ensinadas. Hoje as coleções mais usadas pelas famílias têm preços entre 500 e 1900 reais. Em alguns casos é preciso complementar com outros materiais, especialmente no caso de Língua Portuguesa, uma vez que dificilmente um mesmo material trabalha todas as áreas necessárias.
  • Você também pode montar sua própria coleção, escolhendo materiais de diferentes autores/editoras, conforme a disciplina. Em uma simulação que fiz agora com alguns materiais que as famílias têm escolhido, montei uma coleção pelo valor de 1.150 reais para um ano letivo em 3º ano do Ensino Fundamental.
  • VALORES: Considere uma média de 1.200 reais para o ano (para cada criança/série), caso você tenha pouco tempo e experiência para preparar atividades.

B) Currículo:

  • Embora a maior parte das famílias foque somente no material didático, depois de um tempo os pais percebem que estão trabalhando de forma muito solta, seguindo linhas e filosofias educacionais diferentes e sem uma continuidade clara. Isso acontece quando a família não define o seu próprio currículo antes de começar. Claro, na maior parte dos casos os pais não têm a disponibilidade de tempo e conhecimento necessário para elaborar um currículo, então optam por adquirir um já elaborado de forma aproximada às suas preferências e visão educacional.
  • O valor de um currículo para Educação Infantil está entre 700 a 1000 reais.
  • O valor de um currículo para Anos Iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º) está entre 2.000 a 3.600 reais).
    • OBS.: Algumas famílias optam por usar currículos gratuitos como a BNCC ou currículos municipais, outras famílias optam por seguir o currículo indicado em livros. Nesse caso, o custo é reduzido.
  • VALORES: Entre 700 a 3.600 reais, dependendo da escolha do currículo. Esse investimento é feito uma única vez, uma vez que geralmente a compra é feita do currículo completo (existem opção que já incluem o acesso ao currículo em cursos de formação ou comunidades para famílias educadoras).

C) Estudos/ Formação dos Pais Educadores:

  • Novamente, o investimento nessa área dependerá de outros fatores, especialmente a formação e experiência na área de ensino na idade em que a criança está.
  • Pais que já possuem formação pedagógica, ou já são professores em outras áreas, precisam apenas ganham conhecimento específico para a idade de seus filhos, ou ganhar conhecimento prático. Nesse caso, o investimento costuma envolver:
    • Livros de estudo: média de 50 reais por mês
    • Participação em congressos: média de 30 reais por mês (400 por ano)
    • Cursos de formação: média de 200 reais por mês
    • Participação em comunidades para pais: média de 30 reais por mês (400 por ano)
  • VALORES: cerca de 300 reais por mês /3.600 reais por ano

D) Disciplinas Extras/Professores Particulares:

  • Nos casos de disciplinas e atividades que os pais não dominam, será necessário contratar professores particulares ou inscrever a criança em cursos específicos. Obviamente os valores, nesses casos, variam muito, inclusive de cidade para cidade e conforme o perfil do profissional. Em média, uma aula particular tem custo entre 60 a 150 reais a hora, sendo que uma aula por semana fica entre 240 a 600 reais por mês.
  • Algumas famílias já têm seus círculos de amizade bem estabelecidos, e as crianças têm o convívio com um grupo diversificado de pessoas em diversas idades. Outras famílias têm maior dificuldade com essa área. Nesse caso, a participação da criança em cursos extracurriculares são ainda mais importantes, visto que ali estabelecerão relacionamentos e amizades necessárias ao desenvolvimento.
  • Verifique em qual área você precisará contratar um serviço:
    • Educação Física: essa é, geralmente, a área mais difícil para os pais trabalharem em casa, uma vez a criança e o adolescente precisam de bastante atividade intensa, e não apenas tempo ao ar livre. Alguns pais optam por natação, ginástica, futebol ou artes marciais.
    • Inglês: quando os pais não dominam o inglês o bastante para ensinar, contratar um professor ou matricular a criança em uma escola de idiomas.
    • Música: embora não seja fundamental como a Educação Física e o Inglês, o aprendizado de um instrumento musical pode desenvolver muitas habilidades cognitivas e motoras que inclusive melhoram o desempenho da criança nos estudos.
    • Matemática/Língua Portuguesa: no caso de crianças em séries mais avançadas, alguns pais sentem a necessidade de contar com a ajuda de professores particulares, uma vez que o conteúdo se torna mais complexo para quem não tem formação específica, especialmente a partir do 5º ou 6º ano.
  • VALORES: Considere quantos cursos você precisaria e quais os valores praticados em sua região.

E) Consultoria e Assessoria Pedagógica:

  • Muitos pais têm buscado consultorias e assessorias para ter um olhar externo de alguém que ajude a refinar certos pontos em seu trabalho, oferecer orientação em estratégias específicas ou mesmo auxiliar no planejamento.
  • Assim como no caso dos cursos para crianças, os valores de assessoria e consultoria variam, porque podem incluir apenas o horário de atendimento, ou a contratação de um serviço, como planejamento pedagógico, por exemplo. Geralmente custam entre 100 a 300 reais por hora.
  • A frequência depende da necessidade da família, podendo ser semanal, quinzenal, mensal ou semestral.
  • VALORES: conforme sua necessidade, calcule um valor entre 300 reais a 7.000 reais por ano.

F) Custos com infraestrutura:

  • Em alguns casos a casa já possui estrutura adequada ao trabalho da educação domiciliar, mas em outro podem ser necessárias algumas adaptações como aquisição de cadeiras e mesas em altura adequada para a criança, lousa, impressora, material de papelaria e material pedagógico.
  • VALORES: caso precise apenas de manutenção (tinta para impressora e papeis, por exemplo), considere cerca de 1.000 reais por ano.

G) Livros paradidáticos/Biblioteca:

  • Uma das atividades mais importantes da educação domiciliar é a leitura. As crianças são incentivadas a ler sempre e cada vez melhor. Caso a família tenha acesso a uma boa biblioteca pública, não é necessário fazer um grande investimento. Caso não seja possível, é necessário considerar a compra de bons livros para leitura em voz alta e individual.
  • VALORES: considere cerca de 100 reais por mês – 1.200 por ano.

TOTAL – Cerca de 12.000 reais por ano (considere fazer os cálculos conforme a sua necessidade e realidade para chegar a um valor mais preciso).

Um dos receios dos pais quanto à pratica da Educação Domiciliar diz respeito à legalidade. Existem ainda muitas questões em aberto quanto a isso, mas minha recomendação sempre foi: faça um trabalho bem feito, de modo que em qualquer situação seja fácil demonstrar que seus filhos estão recebendo, em casa, uma educação de alta qualidade e não está em nada sendo prejudicada pela modalidade escolhida. O melhor argumento contra a ideia de que o homeschooling é um problema, é mostrar que a evolução de seus filhos está excelente em todas as áreas: emocional, acadêmica, social e física.

Minha orientação é sempre essa: garanta que você está fazendo um trabalho excelente, e siga sem medo. O medo nunca foi bom conselheiro. Se você estiver sentindo segurança no trabalho que está fazendo, será muito mais fácil lidar com os problemas e situações adversas.

Agora, quanto à parte documental: quando você assume a educação formal da criança, precisa ver isso como um trabalho oficial. Assim como a escola precisa organizar tudo, registrar tudo, seu trabalho em casa envolverá isso também. Já postei aqui no nosso site um texto sobre quais documentos são necessários a partir da perspectiva jurídica – escrito pela Dra. Isabelle Monteiro, uma advogada especialista em Direito Educacional e dos Pais.

Em resumo, você precisará de:

A – PROJETO PEDAGÓGICO – Plano contendo descrição da visão educacional da família, objetivos e metas gerais para cada criança e objetivos específicos a serem seguidos no ano letivo (garantindo as competências básicas estabelecidas pela legislação nacional, por meio da BNCC, para a série em que a criança está).

B – PLANEJAMENTO E CRONOGRAMA DE AULAS – Plano contendo calendário do ano letivo, organização dos horários das disciplinas, organização dos períodos de avaliação e cronograma das atividades; além do plano de aulas com objetivo a ser alcançado e estratégias usadas.

C – REGISTRO DE ATIVIDADES E COMPROVAÇÃO DE ATIVIDADES SOCIAIS: Material com todas as atividades realizadas pela criança (exercícios em livros didáticos, folhas de atividades, fotos e registro escrito feito pelos pais no caso de atividades orais.

D – CONTROLE DE FREQUÊNCIA: Você pode ter uma página do plano com espaço para anotação de presença de cada dia em que foi realizada atividade, mas é importante sempre anotar a data na própria atividade também.

E – AVALIAÇÃO: Comprovação, por escrito, da verificação quanto à evolução da criança em cada objetivo de aprendizado. As provas escritas para crianças maiores, e relatórios escritos pelos pais no caso de crianças que ainda não escrevem (ou nas áreas que dependem de observação).

Embora as preocupações maiores, ao decidir pelo homeschooling, sejam quanto às questões de tempo e finanças, quero considerar aqui um ponto muito importante – talvez o mais importante: a postura dos pais diante de certas situações. Isso porque algumas características podem facilitar ou prejudicar extremamente o processo de ensino. A maior parte dos casos em que a família desiste e precisa colocar novamente as crianças na escola se dá em razão dessas questões:

A) DISCIPLINA PESSOAL:

Esse é, sem dúvidas, o maior desafio que tenho visto no dia a dia das famílias educadoras. Explico: muitas pessoas optam pelo homeschooling considerando que ele oferece uma flexibilidade de tempo e rotina diferente da escola: você não precisa começar a aula às 7h da manhã, ou pode dividir entre atividades pela manhã e à tarde, por exemplo. O problema é que, quando os pais são pessoas que não têm o hábito de seguir rotinas, a flexibilidade se transforma facilmente em caos: hoje começo a aula às 8h, amanhã as crianças vão dormir tarde e não acordam, então começamos às 10h… Na outra semana temos visitas em casa por alguns dias e não fazemos atividades, ou uma criança fica doente e as crianças ficam sem aula por uma semana. Depois, perde-se o ritmo e a família passa várias semanas fazendo só uma atividade ou outra. O tempo passa voando, e quando chega o final do ano a mãe se sente desesperada ao ver que quase não progrediu com os filhos. Infelizmente, essa situação tem sido muito, muito comum.

  • RECOMENDAÇÃO: Caso você seja uma pessoa que tem dificuldades em seguir rotinas, assumir o homeschooling será um grande desafio para você. Para evitar desgastes, organize seu planejamento de forma mais fixa, estabelecendo ao menos um horário em que as crianças farão atividades (por exemplo: não importa o que aconteça, das 10h às 12h as crianças estarão em atividade de estudos). A rotina fixa ajuda a criança a criar um hábito de forma que, depois de alguns meses, as coisas começam a acontecer como uma cultura familiar, não dependendo tanto da sua própria força de vontade. Tenha em mãos materiais nos quais as crianças consigam trabalhar sem sua presença (e treine o autodidatismo, para o caso de crianças emocionalmente dependentes). Assim, quando você não estiver bem, uma criança estiver doente ou uma visita está em casa, de toda forma as crianças saberão que naquele horário elas devem ir para um local específico da casa e realizar suas atividades.

B) AUTORIDADE E CONFIANÇA AO ENSINAR

Outra característica que muitas vezes mina as forças dos pais educadores, é o fato de não conseguirem exercer autoridade ao ensinar. Isso acontece especialmente no caso de pais que não têm experiência como professores de crianças, ou sentem necessidade de agradar as crianças. Quando isso acontece, é comum que quando a criança reclama de um exercício que está chato, ou chora porque não quer fazer atividades, os pais sintam medo de estar sendo muito exigentes, e acabem cedendo e deixando de fazer. A criança perde a referência de autoridade e passa a não aceitar seguir instruções dos pais para os estudos. Muitas vezes os pais começam a trocar de materiais, por pensar que o problema está no material, gastam muito dinheiro e perdem tempo com isso, e terminam sentindo-se perdidos por não conseguirem avançar com a criança.

  • RECOMENDAÇÃO: Caso seu perfil seja mais permissivo e você sinta dificuldades em falar com firmeza e autoridade, assumir o homeschooling será um desafio maior. Considere ter ajuda de alguém de fora para trabalhar sua postura, suas atitudes e a organização de um ambiente que transmita segurança e confiança para a criança, de modo que ela consiga ter você como referência de ensino e condução. Busque investir em seu conhecimento para sentir maior segurança quanto ao que a criança é capaz ou não de aprender naquela fase, e saber separar o que é questão de caráter e o que é uma dificuldade real de aprendizado.

C) INSEGURANÇA

Quando você está começando a fazer algo que nunca fez antes, é natural que se sinta inseguro. Precisamos de conhecimento e experiência para nos sentirmos mais à vontade na realização de uma atividade que exige certa habilidade. Quando os pais não têm experiência como professores, é natural que se sintam inseguros quanto ao que fazer. O problema é que as crianças sentem essa insegurança e reagem a ela – às vezes com comportamento impulsivo, às vezes com comportamento de apatia com relação aos estudos.

  • RECOMENDAÇÃO: Caso esteja começando, enquanto aprende e trabalha em sua própria formação, busque orientação de profissionais que te ajudem a organizar seu planejamento. Então, dedique-se a estudar e invista em conhecer e aprender tudo o que for possível sobre: 1) o que a criança precisa aprender na idade em que ela está, 2) quais são os comportamentos comuns da criança nessa fase, e como lidar com eles, 3) quais são as melhores estratégias para ensinar de forma leve, sem estresse, mais ao mesmo tempo seguindo um ritmo que não subestima a capacidade da criança, 4) as habilidades e conhecimentos que a criança precisa desenvolver – se a criança está em fase de fluência leitora, você precisa ser um leitor fluente; se a criança está em fase de aprender a resolver problemas, você precisa resolver os problemas facilmente.

D) CONCORDÂNCIA ENTRE OS PAIS

Este tem sido um assunto difícil, porque muitas vezes um dos pais tem um forte desejo de assumir o homeschooling, enquanto o outro não considera uma boa decisão. Como se deve imaginar, a opção pela educação domiciliar é algo que envolve toda a família, porque muda completamente a dinâmica, a rotina e inclusive as prioridades financeiras. Se assumir essa responsabilidade já é algo desafiador quando ambos os pais abraçam a missão e dividem as tarefas, imagine o tamanho da dificuldade quando apenas uma pessoa será responsável por fazer tudo acontecer.

  • RECOMENDAÇÃO: Se somente um dos pais tem hoje a convicção quanto ao homeschooling, minha orientação sempre é: só tome essa decisão quando houver um acordo (não simplesmente um “vencer pelo cansaço”). Se não existe essa convicção nos dois lados, ore e peça a Deus que faça isso no tempo Dele. Eu realmente creio que quando algo é da vontade de Deus, Ele muda corações, dando clareza e confiança, e Ele mesmo provê as condições para seguirmos com tudo em ordem. Se uma pessoa está reticente, coloque no papel seu planejamento, mostre todas as questões envolvendo custos, tempo, experiência e possibilidades. (Talvez ao fazer isso você mesmo perceba que algumas coisas precisam ser ajustadas antes de começar).

Talvez essas questões tragam um certo temor quanto ao tamanho da responsabilidade. Esse temor é bom. Ele nos impede de achar que “é só começar e tudo vai dar certo”. Mas lembre-se que em tudo dependemos da Graça do Senhor. Disponha seu coração a fazer tudo com empenho, dedicação e zelo, e descubra quanto é maravilhoso ver o agir do Senhor todos os dias.

Não se esqueça: nunca tente imitar o que outras famílias estão fazendo. Organize seu plano educacional para ter certeza de que o seu trabalho está direcionado para a realidade e necessidade da SUA família.

Esse trabalho inclui considerar, inclusive, se o Homeschooling é a melhor opção para você hoje, ou se o ideal seria começar com o Afterschooling, que é quando você assume a formação da criança mesmo que ela frequente a escola.

Aqui, eu chamo esse processo de “Educação Intencional”, isto é: tudo o que você quer que a criança aprenda, você precisa ensinar e trabalhar de forma intencional. Não fique esperando as coisas acontecerem como obra do acaso. Deus colocou os pais e professores na vida das crianças para que as ensinem tudo o que elas precisam aprender.

Caso não tenha ainda um plano de educação intencional nesse sentido, te convido a assistir à série “7 Princípios para uma Educação que Floresce”, em nosso canal do Youtube, e dar início a um planejamento mais sólido de educação intencional, sempre considerando a sua realidade e os propósitos específicos da sua família.

Contem conosco para essa jornada.

Olá! Eu sou a Katarine Jordão, professora e consultora pedagógica aqui no Educar com Sapiência. Sou pedagoga com especialização em Orientação Educacional e Educação Cristã, e hoje me dedico a ajudar famílias que querem assumir a frente na educação de seus filhos, mesmo que eles frequentem a escola. Trabalhamos com materiais, acompanhamento e consultoria pedagógica para que cada família se sinta segura para educar filhos fortes e preparados para cumprir sua vocação no mundo, para a glória de Deus. Quer conhecer mais sobre o nosso trabalho? É só visitar o nosso site clicando aqui.

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