O drama do Plano de Aula

(Acho que esse assunto não tem nada a ver com o clima de fim de ano, mas tudo bem):
Escrevi um mini post lá no Instagram (@educar.com.sapiencia) sobre planejamento e sei que algumas pessoas podem se sentir chocadas ao me ver dizendo que eu não gosto de plano de aula.
Então deixa eu fazer uma breve explicação da minha visão sobre o assunto…
Olha… Penso que um dos males da Pedagogia é trazer as amarras do pensamento moderno que tenta criar sistemas e métodos para tudo – que aliás não é um problema só da Pedagogia, né? Não sei se é por conta do cartesianismo do Descartes, o positivismo de Comte ou a ideia de Herbart de transformar a Pedagogia em uma ciência (eu culpo Herbart por um monte de coisas), mas o fato é que quando faz faculdade você aprende uma série de atividades que o professor tem que cumprir para garantir que a educação seja um sucesso.
O que parece que a Pedagogia ignora solenemente é que nós precisamos criar o hábito de avaliar os resultados dos métodos empregados. Sim, sim… A Pedagogia fala sobre avaliação, todo mundo ama avaliação, e etc, mas eu falo sobre avaliar mesmo, não sobre ficar “fazendo avaliações”, sabe?
Quero dizer, se a Pedagogia fosse uma pessoa que decidiu sentar para avaliar suas práticas profissionais, ela chegaria à conclusão que todas as técnicas e métodos “brilhantes” que ela inventou nas últimas décadas parecem não ser tão brilhantes assim, porque as pessoas não estão aprendendo mais e melhor; elas estão aprendendo cada vez MENOS!
Pois bem. Uma coisas que eu mais gostei na Educação por Princípios foi aprender a importância do princípio da individualidade, ou seja, compreender que cada indivíduo foi criado com características únicas. Na prática pedagógica isso deveria nos fazer pensar que também o professor é um ser com características únicas e que cada professor tem um perfil de trabalho diferente.
Então, se é óbvio que todo aquele que ensina precisa desenvolver estratégias de planejamento e avaliação do seu trabalho, isso não significa que todos que ensinam precisam usar as mesmas estratégias e atividades. Porque o que para uma pessoa funciona maravilhosamente bem, para outra é só uma forma de matar o tempo que ela poderia estar investindo em algo mais produtivo. Claro que nem sempre eu pensei assim. Já cheguei a ensinar sobre a importância do plano de aula para todo professor e a pedir que todos fizessem planos de aula, quando trabalhava com a área de educação na igreja. Mas a gente vai vivendo e aprendendo…
Hoje eu entendo que existem pelo menos dois perfis muito diferentes no que diz respeito a planejamento e execução do trabalho de ensino. Aliás, ontem comecei a preparar uma aula extra para o pessoal que fará o curso Ensinar a Estudar no ano que vem, só para mostrar o que aprendi ao longo dos anos sobre a diferença entre plano de aula e projeto de ensino, e como isso me ajudou a ser uma professora melhor.
No ensino, como na vida, uma das maiores alegrias é descobrir que nós nos tornamos melhores ao desenvolver as características com as quais fomos criados, não ao tentar imitar as estratégias, atitudes e vocação dos outros. Ser autêntico ainda é o melhor caminho para ser bom naquilo que você faz.
Agora… É OBVIO que existem coisas na vida que não acontecerão conforme a minha individualidade (e nesse ponto eu creio que aqueles que educam em casa precisam tomar cuidado para que as crianças não se acostumem com um ensino muito individualizado e personalizado para elas, porque mais tarde elas poderão ter sérias dificuldades para compreender que existem muitas áreas em que somos nós que precisamos nos adaptar ao ritmo da vida, e não a vida que precisa se adaptar ao nosso ritmo, nosso estilo, nossas características. Aliás, contrariando o discurso que se tem ouvido nos últimos dias, eu penso que seria mais produtivo se os pais e professores focassem em seu perfil de ensino do que no perfil de aprendizado da criança. Outra hora eu explico por que penso assim e mostro que não sou só eu que digo isso).
O fato é que eu já fiz MUITOS planos de aula nessa vida, mesmo não sendo uma estratégia que funcionava para mim. Eu fiz, ora reclamando, ora resignada, simplesmente porque era preciso.
Mas meu ponto aqui é: se você tem liberdade para ensinar, sugiro que não se prenda muito a um sistema ou método só porque alguém disse que é assim que tem que ser, ou porque você precisa seguir tudo de determinado método. Eu gosto do Material Dourado, mas jamais me consideraria uma “montessoriana” porque discordo de muita coisa que ela diz.
Eu tenho falado muito sobre quanto nós precisamos ensinar os alunos a estudar para que eles se tornem capazes de aprender por conta própria. Mas para isso é preciso que nós aprendamos a ensinar também. Um bom professor não é um cozinheiro que segue bem todas as receitas, ele é como um chef que conhece bem as propriedades de cada ingrediente e os resultados de cada processo de cocção, sabendo utilizar isso tudo para criar novas receitas conforme o resultado que ele pretende alcançar.
E eu sou por um mundo com mais professores-chefs.
😉

2 respostas para “O drama do Plano de Aula”

    • Menina!! Eu só vi hoje que não te respondi!!rsrs
      Bom, além daquele que você já sabe, um bem legal é o “Educação Por Princípios: Ferramentas De Ensino E Aprendizagem”, da Alcione Souza. Ela descreve cada uma das ferramentas que a gente usa na EP. =)

      Curtir

Deixar mensagem para Magda Nascher Cancelar resposta

Crie um site ou blog no WordPress.com