O professor, a prática e as teorias

Você não acha que o mundo seria um lugar melhor se as pessoas parassem de falar sobre a importância da criatividade e de fato começassem a usar ou exercitar seu potencial criativo?

Técnicas são legais, mas simplesmente copiar técnicas dos outros não te torna bom naquilo que você faz.

Veja o caso de ser professor, por exemplo. Um dia, participando de uma aula do mestrado na USP, alguém disse: “Mas precisamos tornar isso prático. Os professores não têm perfil para lidar com teorias, eles precisam das receitas prontas de como aplicar isso na sala de aula.”

Não sei você, mas eu discordo dessa afirmação, e com veemência. Uma pessoa pode não ter disposição para aprender e estudar as teorias, mas essa história de não ter perfil e precisar de receitas é furada. Se você tem a base, se conhece as teorias, você simplesmente não é um refém de receitas prontas para dar aula – porque você sabe criar a receita certa para cada necessidade.

Eu gosto demais de compartilhar com outros professores ou com os pais as ideias e estratégias que já criei e que deram certo, assim como gosto demais de analisar professores que são muito bons para descobrir as estratégias que eles usam. Mas a verdade é que uma mesma técnica não vai dar certo para todo mundo. Você não consegue simplesmente usar a mesma estratégia com todas as turmas. O contexto muda, surge a necessidade de uma nova ideia. Isso é ser professor, sabe? É analisar uma situação e pensar: o que eu posso fazer para que esses alunos desenvolvam melhor esse ponto? É assim que nasce uma nova técnica, uma nova estratégia.

O problema é que mesmo sendo todos à imagem do Criador e possuindo esse incrível potencial criativo, somos limitados. Só Deus pode criar ex-nihilo – a partir do nada. Nós, não. Nós precisamos de repertório, de base. Nossa criatividade se forma a partir de tudo o que já vivenciamos e tudo o que conhecemos sobre nossa área de atuação. Sim, gente. Precisamos conhecer as teorias. Precisamos entender as ideologias e princípios que guiam as metodologias que usamos. Precisamos parar com essa coisa de “Ok, pula essa parte teórica e vamos para a parte prática”. Essa não é uma atitude boa para um bom professor.

Se você é um cozinheiro comum você segue receitas. Se você é “O” cozinheiro, você conhece a função de cada ingrediente e você pode criar suas próprias receitas. Não é assim que nascem os grandes chefs? Pessoas que não se contentam em copiar um prato, mas passam horas experimentando sabores e combinações até que surja uma obra prima?

Dizem que algumas pessoas têm perfil criador e outras têm perfil executor. Talvez exista sim uma tendência. Contudo eu creio que toda profissão e atividade humana possuem essa essência de obra de arte. E tenho a impressão que qualquer um poderia ser um Vermeer, mas a maioria prefere ser um Van Meegeren.

A questão é que copiar técnicas alheias ou se acomodar a executar comandos nunca trará a mesma alegria, a mesma sensação de plenitude. Porque fomos criados para isso – criados para conhecer profundamente as estruturas, os ingredientes, e então construir novos pratos, novas ideias. Fomos criados para criar. Exercer a criatividade é trabalhar para que o jardim floresça e produza frutos. E essa é uma grade parte da essência do que é ser professor.

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